Entrevista concedida pelo Bispo Dr. Stephan Ackermann ao jornalista Felix Neumann, 3 de maio de 2022, a respeito da decisão sobre a Causa Kentenich.
Por que razão o processo de beatificação do Padre José Kentenich está apenas suspenso e não encerrado, e sob que condições o Sr. Bispo lhe daria continuidade?
Após consultar especialistas e em diálogo com os representantes do Movimento de Schoenstatt, cheguei à conclusão de que não posso continuar o processo neste momento. Existem questões a serem esclarecidas. Na minha opinião, não podemos esclarecer estas questões dentro do processo de beatificação. Havendo alegações de abuso, o procedimento deve ser diferente do previsto num processo de beatificação. Se surgirem novos dados que respondam satisfatoriamente a todas as questões em aberto, não se exclui a possibilidade de que o processo possa ser retomado.
Quais os resultados das investigações realizadas pelos especialistas designados pela Diocese para esse efeito, no ano passado?
Ainda não foram feitas investigações, não chegámos a este ponto. Até agora, tenho consultado especialistas em diversas disciplinas, procurando maneiras de proceder corretamente nesta situação. Por exemplo, tive necessidade de deixar de lado a ideia de formar outra comissão histórica, porque ela não poderia fazer o que é necessário no caso: uma investigação livre e transparente.
E depois de novas consultas, ficou claro também que isto não podia fazer parte de um processo liderado e encomendado por mim, mas que tinha, sim, de ser realizado de forma independente.
Com as acusações foram publicados documentos incriminando o Padre José Kentenich. Por que razão os testemunhos surgidos até agora não são suficientes para um veredicto sobre o fundador de Schoenstatt?
Penso que as discussões dos últimos dois anos, mas também o conhecimento dos novos documentos disponíveis, indicam que ainda não esgotámos o que se tem a dizer sobre a vida, a obra e a espiritualidade do Padre Kentenich.
Por este motivo, é preciso ainda ser pesquisado muito mais. Ao mesmo tempo, porém, não posso continuar o processo de beatificação de uma pessoa contra a qual existem acusações que, no momento, não podem ser refutadas com segurança.
O Sr. Bispo considera credível o testemunho de Irmã Georgia Wagner no processo de canonização em 5 de junho de 1986?
Não posso, nem quero, pronunciar-me sobre as declarações particulares no processo de beatificação. No entanto, em princípio, posso dizer que levo a sério a declaração de Irmã Georgia Wagner. A pergunta que me faz, porém, mostra precisamente o dilema existente no processo: essa declaração é parte de um “quebra-cabeças” e não pode ser avaliada isoladamente. Pergunta-se: em que contexto foi feita esta declaração? Existem outras declarações dessa pessoa? Existem outras referências em outros contextos sobre o que a Irmã Georgia expressa aqui?
Este “quebra-cabeças” – cheguei a esta conclusão no decorrer das consultas anteriores – não se soluciona apenas no âmbito do processo de beatificação, mas dentro de um quadro geral e necessário. Isso exige estudos individuais de diversas disciplinas, cujos resultados poderão então ser lidos em conjunto. Justamente por isso, proponho a pesquisa para responder a estas questões.
De que forma a Diocese acompanhará as pesquisas sobre o Padre Kentenich e contribuirá para responder à pergunta se o Padre Kentenich era um abusador?
Com a suspensão do processo não haverá mais nenhuma atividade por parte da Diocese. Evidentemente, vou acompanhar com interesse se está a ser feita uma pesquisa independente e interdisciplinar sobre a pessoa do Padre Kentenich e quais os seus resultados. Eu, pessoalmente, não participarei da mesma.
Ao mesmo tempo, é importante para mim dizer que a suspensão do processo de beatificação não significa um julgamento negativo sobre o trabalho mundial de todos aqueles que estão comprometidos nos vários grupos e institutos do Movimento de Schoenstatt. Estas famílias, estes jovens, mulheres e homens estão a caminho em nome do Evangelho e dão testemunho do Senhor da Igreja, cuja Ressurreição novamente acabamos de celebrar.
(Tradução livre revista pelo M.A.S. em Lisboa.)